29 setembro 2008

Homenagem à Srª Dona Branca...


Dona Branca dos Santos (1902-1992) merece uma especialíssima homenagem nestes tempos de crise financeira.

Socorro-me da Wikipedia para sintetizar o essencial da história dessa mártir. Na infância, que ocorreu nos últimos anos da monarquia, aprendeu a conhecer a pobreza, que se agravou na segunda década do seculo XX, com a 1ª Grande Guerra.
Maria Branca dos Santos, nasceu numa família humilde e bastante pobre.
Recebe formação escolar muito básica (sendo praticamente analfabeta mas com grande capacidade de raciocínio matemático) e forte apetência para os negócios.
Desde cedo se iniciou como banqueira: guardava o dinheiro da venda das varinas ao longo do dia recebendo ao anoitecer uma pequena "compensação" pelo "depósito". Conhecida como pessoa honesta, ganhou um carisma que a tornou popular junto de outras classes de comerciantes, especialmente de ambulantes.
No decorrer dos anos 50, desenvolveu uma actividade bancária clandestina. Estrategicamente começou a atribuir juros a quem lhe confiasse as suas economias. Quanto mais elevada fosse a importância, mais alta era a taxa de juro remuneratória.
Quem lhe entregasse as suas economias, recebia, no fim do período convencionado, o valor do depósito acrescido de 10%, chegando essa taxa a ser a taxa mensal.

Como está explicado na Wikipedia, a metodologia resultava com o aparecimento diário de novas pessoas e operava do seguinte modo:
- ontem pessoa 'X' depositou 20 contos. - hoje a pessoa 'Y' depositou 20 contos (2 contos iriam para pessoa 'X' - que ficava logo já com os juro mensal). E assim sucessivamente uma vez que o cliente de ontem recebia os juros do(s) cliente(s) do dia seguinte. Uma vez que tanto o cliente 'X' bem como o cliente 'Y' não procediam o levantamento da totalidade do depósito facilmente se gerava um fundo sustentável e seria aumentando significativamente se invés do levantamento os clientes voltariam a depositar. O empréstimo que concedia era rigorosamente estudado e com juros elevados que chegavam até metade do empréstimo.
Reporta a Wikipedia que ao longo de décadas sempre funcionou este esquema, pois semanalmente apareciam dezenas de cliente novos vindos de todo o país.

Isto obrigou à criação de novos escritórios espalhados por Lisboa e por todo o país visto que começaram a ser notórias as filas à porta do seu escritório de Alvalade.

Para isso contou com a colaboração de familiares e amigos íntimos que eram aliciados e estimulados pela entrada de quantias exorbitantes de dinheiro vivo.

A Março de 1983, o semanário "Tal & Qual" divulgou a actividade e os métodos de Dona Branca, que passou a ser notícia na imprensa internacional.
D. Branca conseguiu em muito pouco tempo quadriplicar o seu poderio económico. Centenas de pessoas dirigiam-se para aos seus escritórios para obterem retribuições do seu capital com juros de 10 % ao mês (120% ao ano) que fazia concorrência aos juros oficiais da banca, que rondavam os 30 % ao ano.
A corrida aos depósitos na banca oficial para a entrega dos fundos à "Banqueira do Povo" fez recear pela bancarrota. O Ministro das Finanças de então, Ernâni Lopes, estratégicamente, foi à televisão avisar os portugueses os portugueses, dizendo-lhes que a actividade de Dona Branca era ilegal.

O resultado foi o mesmo que ocorreria se um ministro das Finanças qualquer fosse à televisão informar que os depositantes de determinado banco corriam o risco de perder os seus fundos.

Os depositantes acorreram aos escritórios de Dona Branca para reaver o seu dinheiro, gerando-se uma confusão incontrolável.

Noticiaram os jornais que a confusão permitiu que cooperadores oportunistas tenham retirados sacos e sacos de dinheiro dos escritórios da idosa senhora. Quando a polícia acorreu à sua residência ainda conseguiu, apesar disso, recuperar 60 mil contos em dinheiro vivo e cheques no valor de 90 mil contos.

Aqui se iniciou um longo processo judicial.

A velha senhora, como garantia dos depósitos feitos nos seus escritórios, emitiu milhares de cheques a favor dos seus clientes, sendo centenas deles devolvidos por falta de provisão.
Em 8 de Outubro de 1984 foi presa preventivamente e internada na Cadeia das Mónicas, em Lisboa.
Foi acusada, com mais 68 arguidos, por crimes de associação criminosa, emissão de cheques sem cobertura, burla agravada, falsificação e abuso de confiança.

O julgamento realizou-se em 1988 no Tribunal da Boa-Hora e durou mais de 1 ano. A final, Dona Branca dos Santos foi condenada numa pena de prisão de 10 anos, pelo crime de burla agravada.
A Justiça condoeu-se do seu estado de saude e da sua idade avançada e reduziu-lhe a pena, devolvendo-a à liberdade, pouco tempo depois da condenação. Acabou os seus dias num lar, onde morreu cega e ironicamente na miséria. Foi a enterrar ao Alto de São João acompanhada de apenas 5 pessoas.

Uma anjinha... comparada com os gabirus que geraram a crise dos tempos que correm.

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